SOBRE O SANTUÁRIO

1 – Quantos tronos existem para a divindade no santuário celestial: um, dois ou três?

A visão relatada no capítulo “O Fim dos 2.300 Dias”, no livro Primeiros Escritos, revela a existência de um trono para a divindade no lugar santo e de outro trono divino no lugar santíssimo. Apocalipse 8:3, 4 sugere que o trono do lugar santo esteja acima do altar de incenso. Por sua vez, de acordo com Primeiros Escritos, p. 32 e 252, indica que o trono do lugar santíssimo fica acima do propiciatório, entre os querubins.

É importante ressaltar que Ellen G. White viu o Pai e o Filho assentados em um só e mesmo trono no lugar santo (Primeiros Escritos, p. 54). Logo, não há tronos diferentes para o Pai e o Filho. Eles compartilham o mesmo trono. Quando Jesus subiu ao Céu, assentou-Se à direita do Pai em Seu trono (Sl 110.1; Mc 16.19; At 2.33; Rm 8.34; Cl 3.1; Hb 1.3; 8.1; 10.12; 12.2; 1Pe 3.22). Apocalipse 22.1 fala do “trono de Deus e do Cordeiro”. Falando à igreja de Laodiceia, Jesus mesmo declara: “Eu venci e Me sentei com meu Pai no Seu trono” (Ap 3.21).

Nada é dito a esse respeito do Espírito Santo no tocante ao trono de Deus. Embora Ellen G. White seguramente O considere um ente divino (Evangelismo, p. 616), também adverte de que “a natureza do Espírito Santo é um mistério. Os homens não a podem explicar, porque o Senhor não lho revelou. Com fantasiosos pontos de vista, podem-se reunir passagens da Escritura e dar-lhes um significado humano; mas a aceitação desses pontos de vista não fortalecerá a igreja. Com relação a tais mistérios – demasiado profundos para o entendimento humano – o silêncio é ouro” (Atos dos Apóstolos, p. 30).

2 – O trono de Deus no lugar santo do santuário celestial era representado pela mesa dos pães da proposição do primeiro compartimento do templo terrestre?

A evidência indica que o trono do lugar santo não seve ser identificado com a mesa dos pães da proposição. Em Primeiros Escritos, p. 32, 54, 55 e 251, Ellen G. White menciona tanto o “trono” como a “mesa” no santuário celestial, o que revela serem realidades distintas. Ela expressamente afirma ter visto a mesa e os pães na primeira divisão do templo celeste. Além disso, em Apocalipse 8:3, 4, é dito que a fumaça do incenso sobe do altar de ouro até o trono de Deus, o que sugere que o trono do lugar santo esteja posicionado acima desse altar. Ao que tudo indica, o trono do santo e o trono do santíssimo do santuário celestial não se encontravam representados por móveis específicos do templo terrestre.

3 – Qual é o sentido das palavras “te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas” em Apocalipse 4:1?

A expressão grega μετὰ ταῦτα (meta tauta), que ocorre duas vezes em Apocalipse 4.1, é abundante nos livros do Novo Testamento. Literalmente, significa “depois dessas”, estando a palavra “coisas” subentendida. Poderia ser traduzida também pela expressão mais simples “depois disso”.

Essa expressão aparece dez vezes no livro do Apocalipse (1.19; 4.1; 7.1, 9; 9.12; 15.5; 18.1; 19.1; 20.3). Em sete dessas ocorrências, claramente significa apenas “depois do que foi mostrado imediatamente antes”, referindo-se à sequência das cenas na visão e nao ao seu cumprimento histórico. Isso fica evidente em Apocalipse 7.1, em que a obra do selamento é apresentada logo após a cena da volta de Jesus.

A mesma expressão ocorre em Apocalipse 1.19, em que o foco está na experiência visionária. João recebeu ordem de escrever as coisas que ele tinha visto, bem como as que “são” e “as que há de acontecer depois destas coisas”. O uso da palavra “acontecer” na tradução passa a ideia de que a última parte do verso 19 se refere aos eventos futuros na história. Entretanto, a palavra grega vertida por “acontecer” é o verbo γίνομαι (guínomai), que significa “vir a ser”, “tornar-se”, “acontecer”. No contexto, pode muito bem se referir ao que seria mostrado depois, independentemente do tempo de sua realização histórica. Por isso, o sentido do verso seria próximo de: “Escreve, pois, as coisas que viste, as que estão sendo mostradas e as que aparecerão depois dessas.”

Em Apocalipse 4.1, a ideia é semelhante. A voz convida João a subir ao Céu para de lá serem mostradas coisas que deviam ter lugar na visão depois do que já tinha sido apresentado. Ou seja, a oração “te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas” se refere à sequência de cenas a serem mostradas durante o êxtase profético, não sendo um indicativo do tempo do cumprimento histórico.

Todavia, se alguém insistir na tese de que a referida oração significa que seriam mostradas a João cenas concernentes ao futuro, então a resposta à sua pergunta deve ser “a partir daquele momento da visão”, o que se aproxima de sua primeira alternativa.

Entretanto, mesmo considerando essa hipótese, é importante observar que a voz não afirma que só seriam mostradas coisas futuras, mas que coisas do futuro certamente seriam reveladas. Ou seja, admitindo esse ponto de vista, a ideia é que, de Apocalipse 4.1 para frente, eventos que teriam lugar no futuro seriam apresentados a João, mas sem excluir eventos passados. Por exemplo, Apocalipse 12.5 faz referência a um evento passado (o nascimento e a ascensão de Jesus), mas há outros acontecimentos em Apocalipse 12 que ainda estavam no futuro, como é o caso dos versos 13-17.

4 – No assunto do santuário, qual é a relação entre tipo e antítipo? Qual santuário é o tipo e qual é o antítipo?

A relação de tipo e antítipo depende do aspecto que está em consideração.

O santuário terrestre é tipo do santuário celestial, que é seu antítipo, no sentido de que os crentes podiam ter uma noção do santuário do Céu contemplando o santuário da Terra. Ou seja, o santuário terrestre servia de maquete do santuário celestial. Era, portanto, um tipo ou esquema do santuário do Céu. Essa é a relação que mais comumente é apresentada.

Mas Hebreus também fala do santuário da Terra como antítipo de coisas celestiais. No texto grego, a palavra traduzida por “figura” ou “cópia” em Hebreus 9.24 é ἀντίτυπος (antitupos). Nesse caso, o santuário terrestre é considerado antítipo do celestial porque foi construído conforme o “modelo” (o tipo) apresentado por Deus a Moisés no monte (At 7.44; Hb 8.5).

Artigo escrito por Henderson Hermes Leite Velten.

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